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FREI ANTÔNIO DE SANT'ANNA GALVÃO
Nasceu em 1739, em Guaratinguetá, SP.
O ambiente familiar era profundamente religioso. O pai, Antônio Galvão de França, era imigrante português e Capitão-mor da cidade. Sua mãe, Isabel Leite de Barros, era filha de fazendeiros, bisneta do famoso bandeirante Fernão Dias Pais, o "caçador de esmeraldas". Antônio viveu com seus irmãos numa casa grande e rica, pois seus pais gozavam de prestígio social e influência política.O pai, querendo dar uma formação humana e cultural segundo suas possibilidades econômicas, mandou o filho com a idade de 13 anos para o Colégio de Belém, dos padres jesuítas, na Bahia, onde já se encontrava seu irmão José. Lá fez grandes progressos nos estudos e na prática cristã, de 1752 a 1756. Queria tornar-se jesuíta, mas por causa da perseguição movida contra os jesuítas pelo Marquês de Pombal, seu pai o aconselhou a entrar para os franciscanos, que tinham um convento em Taubaté, não muito longe de Guaratinguetá. Assim, renunciou a um futuro promissor e influente na sociedade de então, e aos 21 anos, entrou para o noviciado na Vila de Macacu, no Rio de Janeiro. Lá distinguia-se pela piedade e virtudes. A 16 de Abril de 1761 fez seus votos solenes. Um ano após foi admitido à ordenação sacerdotal, pois julgaram seus estudos suficientes. Este privilégio mostra a confiança que nutriam pelo jovem clérigo. Foi então mandado para o Convento de São Francisco em São Paulo a fim de aperfeiçoar os seus estudos de filosofia e teologia, e exercitar-se no apostolado. Data dessa época a sua "entrega a Maria", como seu "filho e escravo perpétuo", consagração mariana assinada com seu próprio sangue a 9 de novembro de 1766.Terminados os estudos foi nomeado Pregador, Confessor dos Leigos e Porteiro do Convento, cargo este considerado de muita importância, pela comunicação com as pessoas e o grande apostolado resultante. Foi confessor estimado e procurado e, muitas vezes, quando era chamado ia sempre a pé mesmo nos lugares mais distantes.Em 1769-70 foi designado Confessor de um Recolhimento de piedosas mulheres, as "Recolhidas de Santa Teresa", em São Paulo. Neste Recolhimento encontrou Irmã Helena Maria do Espírito Santo (biogr.44), religiosa de profunda oração e grande penitência que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento. Frei Galvão, ouvindo também o parecer de pessoas sábias e esclarecidas, considerou válidas essas visões. No dia 2 de fevereiro de 1774 foi oficialmente fundado o novo Recolhimento e Frei Galvão era o seu fundador. Em 23 de fevereiro de 1775, um ano após a fundação, Madre Helena morreu improvisamente. Frei Galvão tornou-se o único sustentáculo das Recolhidas, missão que exerceu com humildade e grande prudência. Enquanto isso o novo Capitão-general de São Paulo, homem inflexível e duro, retirou a permissão e ordenou o fechamento do Recolhimento. Fazia isso para opor-se ao seu predecessor, que havia promovido a fundação. Frei Galvão aceitou com fé e também as recolhidas obedeceram, mas não deixaram a casa e resistiram até os extremos das forças físicas. Depois de um mês, graças a pressão do povo e do Bispo, o recolhimento foi aberto.Devido ao grande número de vocações, o Servo de Deus se viu obrigado a aumentar o recolhimento. Durante 14 anos cuidou dessa nova construção (1774-1788) e outros 14 para a construção da igreja (1788-1802), inaugurada aos 15 de agosto de 1802. Frei Galvão foi arquiteto, mestre de obras e até pedreiro! A obra, hoje o Mosteiro da Luz, foi declarada "Patrimônio Cultural da Humanidade" pela UNESCO.Frei Galvão, além da construção e dos encargos especiais dentro e fora da Ordem Franciscana, deu toda a atenção e o melhor de suas forças à formação das Recolhidas. Era para elas verdadeiro pai e mestre. Para elas escreveu um estatuto, excelente guia de vida interior e de disciplina religiosa. Esse é o principal escrito de Frei Galvão, e que melhor manifesta a sua personalidade.Frei Galvão era considerado santo já em vida e a cidade fez dele o seu prisioneiro. Em várias ocasiões as exigências da sua Ordem Religiosa pediam que se mudasse para outro lugar para realizar outras funções, mas tanto o povo e as Recolhidas, como o bispo, e mesmo a Câmara Municipal de São Paulo intervieram para que ele não saísse da cidade. Diz uma carta do "Senado da Câmara de São Paulo" ao Provincial (superior) de Frei Galvão: "Este homem tão necessário às religiosas da Luz, é preciosíssimo a toda esta Cidade e Vilas da Capitania de São Paulo, é homem religiosíssimo e de prudente conselho; todos acorrem a pedir-lho; é homem da paz e da caridade".Frei Galvão viajava constantemente pela Capitania de São Paulo, pregando e atendendo as pessoas. Fazia todos esses trajetos sempre a pé, não usava cavalos nem a 'cadeirinha' levada por escravos, o que era absolutamente normal para aquele tempo. Vilas distantes 60 km ou mais, cidades do litoral, ou mesmo viajando para o Rio de Janeiro, enfim, não havia obstáculos para o seu zelo apostólico. Por onde passava as multidões acorriam. Ele era alto e forte, de trato muito amável, recebendo a todos com grande caridade.Frei Galvão era homem de muita e intensa oração, e dele se atestam certos fenômenos místicos, como os êxtases e a levitação. São famosos em sua vida os casos de bilocação: estando em determinado lugar, aparecia em outro, improvisamente, para atender um doente ou moribundo que precisava da sua atenção. Era também procurado para a cura, em tempos em que não havia recursos e ciência médica como hoje. Numa dessas ocasiões, inspirado por Deus, escreveu num pedaço de papel uma frase em latim do Ofício de Nossa Senhora, que poderia se traduzida assim: "Depois do parto, Ó Virgem, permaneceste intacta: Mãe de Deus, intercede por nós!". Enrolou o papel em forma de pílula e deu a um jovem que estava quase morrendo por fortes cólicas renais. Imediatamente cessaram as dores e ele expeliu um grande cálculo. Logo veio um senhor pedindo orações e um 'remédio' para a mulher que estava sofrendo em trabalho de parto. Frei Galvão fez novamente uma pilulazinha, e a criança nasceu rapidamente. A partir daí teve que ensinar as irmãs do recolhimento a confeccionar as pílulas e dar às pessoas necessitadas, o que elas fazem até hoje (É interessante ver na imensa relação de graças alcançadas por intermédio de Frei Galvão, no Mosteiro da Luz, que, embora cerca de 60 a 70% das graças sejam relacionadas a cura de câncer, um grande número de graças refere-se a problemas por cálculos renais, gravidez e parto, ou casais que não conseguiam ter filhos e foram atendidos). Em 1811, a pedido do bispo de São Paulo, Frei Galvão fundou o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba, SP, onde permaneceu por 11 meses para encaminhar a nova fundação e comunidade. Posteriormente, após a sua morte, outras mosteiros foram fundados por essas duas comunidades, seguindo assim, a orientação deixada pelo Beato (veja a relação na biogr.44, de Madre Helena).Faleceu em 23 de dezembro de 1822 e a pedido do povo e das irmãs foi sepultado na igreja do Recolhimento da Luz, que ele mesmo construíra. Seu túmulo sempre foi lugar de contínuas peregrinações.
Fonte: Santos do Brasil
MOSTEIRO DA LUZ
Mosteiro da Imaculada Conceição da Luz
O mosteiro da Imaculada Conceição da Luz é um convento antigo, simples, mas muito bonito, de estilo arquitetônico colonial.
Foi fundado em 2 de fevereiro de 1774 por Frei Antonio de Sant’Anna Galvão, a pedido de uma simples religiosa carmelita, mas dotada de grande vida mística contemplativa: Madre Helena do Espírito Santo. Esta era assistida por Frei Galvão que era confessor das Irmãs do Mosteiro. Ela alegava que Jesus, mediante mensagens e aparições, pedia-lhe a fundação de mais uma casa contemplativa em São Paulo. Conta-lhe que Jesus, na última vez, aparecera carregando ovelhinhas, uma nos ombros, outras nos braços e outras querendo subir ao seu colo e lhe disse: "Veja, minha filha, estas são as ovelhinhas que estão à procura de um aprisco".Frei Galvão, após muitos diálogos, conselhos e orientações, convenceu-se da autenticidade do fato, levando a peito a obra. Redigiram ambos uma carta ao bispo Dom Frei Manuel da Ressurreição e ao Morgado de Mateus, Dom Luiz Antonio de Souza, no que foram prontamente atendidos, embora, na época, a Igreja estivesse fortemente perseguida pelo Marquês de Pombal, que, além de expulsar os jesuítas em 1759, em 1764 proibia o recebimento de candidatos em outras ordens religiosas, etc.O cauteloso Frei Galvão, para que a nova fundação não viesse a sofrer arbitrariedades do governo, conservou-o apenas como "Recolhimento", que quer dizer: Casa de Retiro, onde se reuniam senhoras devotas sem votos religiosos canônicos. Embora praticassem a vida religiosa em toda a perfeição, não eram consideradas religiosas propriamente ditas nem o estabelecimento verdadeiro convento.O Novo Recolhimento nascido aos 2 de fevereiro de 1774 tomou o nome de "Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência", que se distingue pela devoção à Imaculada Conceição, "Laus Perenis", ao Santíssimo Sacramento, além do espírito de contínua penitência e de extrema pobreza.O Novo Recolhimento passou a pertencer à Ordem da Imaculada, atendendo ao desejo do bispo, pelo amor que ele tinha à Virgem Imaculada e também, para não se repetir a Ordem Carmelita, já existente na cidade de São Paulo.O aprisco de Madre Helena do Espírito Santo, passou aos poucos a crescer notadamente. Madre Helena viveu apenas um ano após a fundação. Frei Galvão passou a construir o atual mosteiro. Suas Irmãs, conhecidas até então por Irmãzinhas de Frei Galvão, guiadas pela Providência Divina e Maria Imaculada, continuaram a ser assistidas pela Ordem Franciscana OFM. Chegaram até os dias de hoje, sempre levando em frente o mesmo carisma da Ordem da Imaculada fundada por Santa Beatriz da Silva Menezes: "Desposar-se com Jesus Cristo, nosso Redentor, venerando a Imaculada Conceição de sua Mãe, a Virgem Maria".O Mosteiro da Luz é famoso em São Paulo pela densa espiritualidade que possui. É muitíssimo solicitado nas orações, aconselhamento e assistência espiritual. Além disso, o ponto central das atenções é Frei Galvão, por ter sua sepultura no interior na capela do Mosteiro. Ele foi venerado como "Santo" já em vida e continua aumentando sempre mais a fileira de seus devotos. Seu túmulo é visitado constantemente, fazendo acontecer muitas peregrinações.A busca de suas pílulas milagrosas é grande, trazendo muita gente ao Mosteiro. Na clausura, além da vida de oração que se leva, é constante a confecção de pílulas de Frei Galvão.A Ordem da Imaculada Conceição a que este Mosteiro é incorporado, foi fundada por Santa Beatriz da Silva Menezes em 1489. A Ordem é totalmente de vida contemplativa. Vive o mistério de Cristo a partir da fé, da oração constante, da disponibilidade e do ocultamento silencioso. A clausura é um modo de unir-se mais profundamente à Paixão de Cristo e de participar de um modo especial do mistério pascal. Além de sinal de separação do mundo, essencial à vida contemplativa, a clausura constitui uma opção de solidão e de recolhimento vivendo como num deserto em despojamento e em amor a Cristo crucificado. Na sabedoria da Cruz manifesta-se o ocultamento da vida com Cristo em Deus. Este clima de recolhimento e de silêncio, facilita a oração, a ordem, a paz e a unidade da pessoa ao encontro com Deus, passando a ser sacrifício de louvor oferecido ao Pai em nome dos homens e mensagem de amor, de paz e de alegria que Deus oferece ao mundo.A jovem vocacionada que deseja entrar nesta Ordem, precisa ter ao menos 18 anos, ser sadia, de corpo e de mente. Deve ser católica e fiel cristã, praticante, denotando-se bons princípios e de boa índole: ser honesta, sincera, disponível, espírito de sacrifício e de renúncia. Boa tendência à vida de oração, de silêncio e de solidão.Passos necessários para a integração neste estado de vida:A vocacionada quando entra, fará inicialmente o postulantado:período de 6 a 12 meses, onde fará os seus primeiros passos deobservação e iniciação, procurando conhecer este gênero de vida.Será analisada sua sinceridade e idoneidade a este projeto;O noviciado, constituído de 2 anos, inicia a vida na Ordem.Período de intensa formação em que as noviças conhecem eexperimentam verdadeiramente sua própria vocação e a forma devida das concepcionistas e a comunidade comprova sua disposiçãoe idoneidade;O Juniorato. Terminado o tempo do noviciado, a noviça,considerada idônea e livre de impedimentos, é admitida à ProfissãoTemporária, com a qual é incorporada à Ordem, com um períodode 3 anos ou mais;A Profissão Solene. A juniorista, convencida de que este é oestado de vida que a fará feliz e que desta forma, melhor poderáservir a Deus e à Santa Igreja, fará sua Profissão Solene,desposando-se com Jesus Cristo nosso Redentor em honra daImaculada Conceição passando dessa forma a ser incorporadadefinitivamente na Ordem.Temos, além disso, a "Laus Pereni", ou seja, Adoração Perpétua que acontece de dia e de noite, onde as horas são revezadas por cada irmã. O Mosteiro possui uma Capela própria para adoração, no interior do mesmo e um Coro, onde se reza o Ofício Divino.Além deste programa de orações, as irmãs trabalham nas horas livres. Ocupam-se com todos os afazeres do Mosteiro: cozinha, lavanderia, limpeza, serviço de sacristia (onde a irmã responsável zela pela ornamentação da capela, paramentos, bordados e organização da liturgia). Secretaria do Mosteiro e secretaria de Frei Galvão, onde se elabora o Celeste Orvalho, periódico do Mosteiro. Tem a organista que ensaia e toca nas missas. Serviço de economato e dispenseira da casa e outros. Temos bastante jardim interno zelado também pelas irmãs. Além disso, o que se destaca praticamente em muita ocupação são nas confecções das pílulas de Frei Galvão. As duas irmãs porteiras, além de cuidar da portaria, trabalham constantemente na confecção das mesmas. E cada irmã, nas suas horas livres, estão fazendo-as também.Das 19:00 às 20:00 horas, temos uma hora de recreio, onde as irmãs se reúnem numa sala própria para isto e enquanto conversam, confeccionam pílulas.Assistem televisão somente em assuntos religiosos. Toda noite assistem ao jornal da Igreja na Rede Vida, das 18h40 às 19h00.Assim, as religiosas vivem felizes na clausura em oração, pobreza e penitência, para o bem da igreja e da humanidade, a serviço do Reino.Informações dadas pela Irmã Cláudia de Santa Beatriz
Fonte: CNBB Sul 1
25 DE OUTUBRO - DIA DE SANTO ANTÔNIO GALVÃO
Neste dia 23 de outubro tem início no Convento São Francisco de São Paulo, onde o primeiro santo brasileiro viveu 60 anos, o Tríduo e Festa de Frei Galvão (veja a programação neste Especial).
Segundo Dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, ter um santo que viveu entre nós tem um significado muito especial.
FREI GALVÃO: O BANDEIRANTE DE CRISTO
Com a criação da Diocese de São Paulo, em 1745, Frei Galvão viveu praticamente nesta diocese: 1762-1822. O seu ambiente familiar era profundamente religioso. O pai, Antônio Galvão de França, Capitão-Mor, pertencia às Ordens Terceiras de São Francisco e do Carmo, dedicava-se ao comércio e era conhecido pela sua particular generosidade. A mãe, Izabel Leite de Barros, teve o privilégio de ter onze filhos e morreu com apenas 38 anos com fama de grande caridade, a tal ponto que depois da morte não se encontrou nenhum vestido: tudo fora dado aos pobres.
Antônio viveu com seus irmãos numa casa grande e rica, pois seus pais gozavam de prestígio social e influência política. O pai, querendo dar uma formação humana e cultural segundo suas possibilidades econômicas, mandou o Servo de Deus com 13 anos para Belém (Bahia) a fim de estudar no Seminário dos Padres Jesuítas, onde já se encontrava seu irmão José.
Ficou neste Colégio de 1752 a 1756 com notáveis progressos no estudo e na prática da vida cristã. Teria entrado na Companhia de Jesus, mas o pai, preocupado com o clima antijesuítico provocado pela atuação do Marquês de Pombal, aconselhou Antônio a entrar na Ordem dos Frades Menores Descalços da reforma de São Pedro de Alcântara.
Estes tinham um Convento em Taubaté, não muito longe de Guaratinguetá. Aos 21 anos, no dia 15 de abril de 1760, Antônio ingressou no noviciado do Convento de São Boaventura, na Vila de Macacu, no Rio de Janeiro.
Durante este período distinguiu-se pela piedade e pelas práticas das virtudes, tanto que no "Livro dos Religiosos Brasileiros" encontramos grande elogio a seu respeito.
Aos 16 de abril de 1761 fez a profissão solene e o juramento, segundo o uso dos Franciscanos, de se empenhar na defesa da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, doutrina ainda controvertida, mas aceita e defendida pela Ordem Franciscana.
Um ano depois da profissão religiosa, Frei Antônio foi admitido à ordenação sacerdotal aos 11 de julho de 1762. Os Superiores permitiram a sagrada ordenação porque julgaram suficientes os estudos teológicos feitos anteriormente.
Este privilégio foi também um sinal evidente da confiança que os Superiores nutriam pelo jovem clérigo. Depois de ordenado foi mandado para o Convento de São Francisco em São Paulo, com a finalidade de aperfeiçoar os estudos de filosofia e teologia, como também exercitar-se no apostolado.
Sua maturidade espiritual franciscano-mariana teve expressão máxima na "entrega a Maria" como o seu "filho e escravo perpétuo", entrega assinada com o próprio sangue aos 9 de novembro de 1766.
Terminados os estudos, em 1768, foi nomeado Pregador, Confessor dos leigos e Porteiro do convento cargo este considerado importante, porque pela comunicação com as pessoas permitia fazer um grande apostolado, ouvindo e aconselhando a todos.
Foi confessor estimado e procurado, e quando era chamado ia sempre a pé, mesmo aos lugares distantes. Em 1769-70 foi designado Confessor de um Recolhimento de piedosas mulheres, as "Recolhidas de Santa Teresa" em São Paulo.
Neste Recolhimento encontrou a Irmã Helena Maria do Espírito Santo, religiosa de profunda oração e grande penitência, observante da vida comum, que afirmava ter visões pelas quais Jesus lhe pedia para fundar um novo Recolhimento.
Frei Galvão, como confessor, ouviu e estudou tais mensagens e solicitou o parecer de pessoas sábias e esclarecidas, que reconheceram tais visões como válidas. A data oficial da fundação do novo Recolhimento é 2 de fevereiro de 1774.
Irmã Helena queria modelar o Recolhimento segundo a ordem carmelitana, mas o Bispo de São Paulo, franciscano e intrépido defensor da Imaculada, quis que fosse segundo as Concepcionistas, aprovadas pelo Papa Júlio II em 1511.
A fundação passou a se chamar "Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição da Divina Providência" e Frei Galvão, o fundador de uma instituição que continua até os nossos dias.
O Recolhimento, no início, era uma Casa que acolhia jovens para viver como religiosas sem o compromisso dos votos. Foi um expediente do momento histórico para subtrair do veto do Marquês de Pombal que não permitia novas fundações e consagrações religiosas. Para toda decisão de certa importância, em âmbito religioso, era necessário o "placet regio".
Aos 23 de fevereiro de 1775 morreu, quase improvisamente, Irmã Helena. Frei Galvão encontrou-se como único sustentáculo das Recolhidas, missão que exerceu com humildade e grande prudência. Entrementes, o novo Capitão-General de São Paulo, homem inflexível e duro (ao contrário do seu predecessor), retirou a permissão e ordenou o fechamento do Recolhimento.
Frei Galvão aceitou com fé e também as Recolhidas obedeceram; mas não deixaram a casa, resistindo até os extremos das forças físicas. Depois de um mês, graças à pressão do povo e do Bispo, o Recolhimento foi reaberto.
Devido ao grande número de vocações, o Servo de Deus se viu obrigado a aumentar o Recolhimento. Para tanto contribuíram as famílias das Recolhidas, muitas das quais, sendo ricas, podiam dispor dos escravos da família como mão-de-obra.
Durante catorze anos (1774-1788) Frei Galvão cuidou da construção do Recolhimento. Outros catorze anos (1788-1802) dedicou à construção da igreja, inaugurada aos 15 de agosto de 1802. A obra, "materialização do gênio e da santidade de Frei Galvão", em 1988, tornou-se "patrimônio cultural da humanidade" por decisão da Unesco.
Frei Galvão, além da construção e dos encargos especiais dentro e fora da Ordem Franciscana, deu muita atenção e o melhor das suas forças à formação das Recolhidas. Para elas, escreveu um regulamento ou Estatuto, excelente guia de vida interior e de disciplina religiosa.
O Estatuto é o principal escrito, o que melhor manifesta a personalidade do Servo de Deus. O Bispo de São Paulo acrescentou ao Estatuto a permissão para as Recolhidas emitirem os votos enquanto permanecessem na Casa religiosa.
Em 1929, o Recolhimento tornou-se Mosteiro, incorporado à Ordem da Imaculada Conceição (Concepcionistas). A vida discorria serena e rica de espiritualidade quando sobreveio um episódio doloroso: Frei Galvão foi mandado para o exílio pelo Capitão-General de São Paulo.
Este homem violento, para defender o filho que sofrera uma pequena ofensa, condenou à morte um soldado (Gaetaninho). Como Frei Galvão assumiu a defesa do soldado, foi afastado e obrigado a seguir para o Rio de Janeiro.
A população, porém, se levantou contra a injustiça de tal ordem, que imediatamente foi revogada. Em 1781, o Servo de Deus foi nomeado Mestre do noviciado de Macacu, Rio de Janeiro, pelos qualidades pessoais, profunda vida espiritual e grande zelo apostólico.
O Bispo, porém, que o queria em São Paulo, não lhe fez chegar a carta do Superior Provincial "para não privar seu bispado de tão virtuoso religioso [...] que, desde que entrou na religião até o presente dia, tem tido um procedimento exemplaríssimo pela qual razão o aclamam santo".
Frei Galvão foi nomeado Guardião do Convento de São Francisco, em São Paulo, em 1798, e reeleito em 1801. A nomeação de Guardião provocou desorientação nas Recolhidas da Luz. Á preocupação das religiosas é necessário acrescentar aquela do "Senado da Câmara de São Paulo" e do Bispo da cidade, que escreveram ao Provincial: "todos os moradores desta Cidade não poderão suportar um só momento a ausência do dito religioso. [...] este homem tão necessário às religiosas da Luz, é preciosíssimo a toda esta Cidade e Vilas da Capitania de São Paulo; é homem religiosíssimo e de prudente conselho; todos acodem a pedir-lho; é o homem da paz e da caridade".
Graças a estas cartas, Frei Galvão tornou-se Guardião sem deixar a direção espiritual das Recolhidas e povo de São Paulo. Em 1802, Frei Galvão recebeu o privilégio de Definidor pela solicitação do Provincial ao Núncio Apostólico de Portugal, porque "é um religioso que por seus costumes e por sua exemplaríssima vida serve de honra e de consolação a todos os seus Irmãos, e todo o Povo daquela Capitania de São Paulo, Senado da Câmara e o mesmo Bispo Diocesano o respeitam corpo um varão santo".
Em 1808, pela estima que gozava dentro de sua Ordem, foi-lhe confiado o cargo de Visitador-Geral e Presidente do Capítulo, mas devido ao seu estado de saúde foi obrigado a renunciar, embora desejasse obedecer prontamente.
Em 1811, a pedido do Bispo de São Paulo, fundou o Recolhimento de Santa Clara em Sorocaba, no Estado de São Paulo. Ai permaneceu onze meses para organizar a comunidade e dirigir os trabalhos iniciais da construção da Casa. Voltou para São Paulo e ali viveu mais 10 anos.
Quando as suas forças eram insuficientes para o ir-e-vir diário do Convento de São Francisco ao Recolhimento, obteve dos Superiores (Bispo e Guardião) a autorização para ficar no Recolhimento da Luz.
Drante a última doença, Frei Antônio passou a morar num "quartinho" (espécie de corredor) atrás do Tabernáculo, no fundo da igreja, graças à insistência das religiosas, que desejavam prestar-lhe algum alivio e conforto.
Terminou sua vida terrena aos 23 de dezembro de 1822, pelas 10 horas da manhã, confortado pelos sacramentos e assistido pelo Padre Guardião, dois confrades e dois sacerdotes diocesanos.
Frei Galvão, a pedido das religiosas e do povo, foi sepultado na Igreja do Recolhimento, que ele mesmo construíra. O seu túmulo sempre foi, e continua sendo até os nossos dias, lugar de peregrinação constante dos fiéis, que pedem e agradecem graças por intercessão do "homem da paz e da caridade" e fundador do Recolhimento de Nossa Senhora da Luz, cujo carisma é a "laus perennis", ou seja, adoração perpétua ao Santíssimo Sacramento, vivida em grande pobreza e continua penitência com alegre simplicidade.
Escreveu Lúcio Cristiano em 1954: "Entre os heróis que plasmaram o destino de São Paulo, merece lugar de destaque a inconfundível figura de Frei Antônio de Sant'Anna Galvão, o apóstolo de São Paulo entre os séculos XVIll e XIX", cuja lembrança continua viva no coração do povo paulista.
O Processo de Beatificação e Canonização iniciado em 1938 foi reaberto solenemente em 1986 e concluído em 1991. Aos 8 de abril de 1997 foi promulgado pelo Papa João Paulo II o Decreto das Virtudes Heróicas e aos 6 de abril de 1998, o Decreto sobre o Milagre. Frei Galvão foi declarado bem-aventurado no dia 25 de outubro de 1998.
HOMILIA DE S.S.PAPA BENTO XVI NA CANONIZAÇÂO DE FREI GALVÃO
Alegremo-nos no Senhor, neste dia em que contemplamos outra das maravilhas de Deus que, por sua admirável providência, nos permite saborear um vestígio da sua presença, neste ato de entrega de Amor representado no Santo Sacrifício do Altar. Sim, não deixemos de louvar ao nosso Deus. Louvemos todos nós, povos do Brasil e da América, cantemos ao Senhor as suas maravilhas, porque fez em nós grandes coisas. Hoje, a Divina sabedoria permite que nos encontremos ao redor do seu altar em ato de louvor e de agradecimento por nos ter concedido a graça da Canonização do Frei Antônio de Sant'Anna Galvão.
Nesta solene celebração eucarística foi proclamado o Evangelho no qual Cristo, em atitude de grande enlevo, proclama: "Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequenos" (Mt 11,25). Por isso, sinto-me feliz porque a elevação do Frei Galvão aos altares ficará para sempre emoldurada na liturgia que hoje a Igreja nos oferece. Saúdo com afeto a toda a comunidade franciscana e, de modo especial, as monjas concepcionistas que, do Mosteiro da Luz, da Capital paulista, irradiam a espiritualidade e o carisma do primeiro brasileiro elevado à glória dos altares.
Demos graças a Deus pelos contínuos benefícios alcançados pelo poderoso influxo evangelizador que o Espírito Santo imprimiu em tantas almas através do Frei Galvão. O carisma franciscano, evangelicamente vivido, produziu frutos significativos através do seu testemunho de fervoroso adorador da Eucaristia, de prudente e sábio orientador das almas que o procuravam e de grande devoto da Imaculada Conceição de Maria, de quem ele se considerava "filho e perpétuo escravo".
Deus vem ao nosso encontro, "procura conquistar- nos até à Última Ceia, até ao Coração trespassado na cruz, até as aparições e as grandes obras pelas quais Ele, através da ação dos Apóstolos, guiou o caminho da Igreja nascente" (Carta encl. Deus caritas est, 17). Ele se revela através da sua Palavra, nos Sacramentos, especialmente da Eucaristia. Por isso, a vida da Igreja é essencialmente eucarística. O Senhor, na sua amorosa providência deixou-nos um sinal visível da sua presença.Quando contemplarmos na Santa Missa o Senhor, levantado no alto pelo sacerdote, depois da Consagração do pão e do vinho, ou o adorarmos com devoção exposto no Ostensório, renovemos com profunda humildade nossa fé, como fazia Frei Galvão em "laus perennis", em atitude constante de adoração.Na Sagrada Eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, ou seja, o mesmo Cristo, nossa Páscoa, o Pão vivo que desceu do Céu vivificado pelo Espírito Santo e vivificante porque dá Vida aos homens. Esta misteriosa e inefável manifestação do amor de Deus pela humanidade ocupa um lugar privilegiado no coração dos cristãos. Eles devem poder conhecer a fé da Igreja, através dos seus ministros ordenados, pela exemplaridade com que estes cumprem os ritos prescritos que estão sempre a indicar na liturgia eucarística o cerne de toda obra de evangelização. Por sua vez, os fiéis devem procurar receber e reverenciar o Santíssimo Sacramento com piedade e devoção, querendo acolher ao Senhor Jesus com fé e sempre, quando necessário, sabendo recorrer ao Sacramento da reconciliação para purificar a alma de todo pecado grave.Significativo é o exemplo do Frei Galvão pela sua disponibilidade para servir o povo sempre quando era solicitado. Conselheiro de fama, pacificador das almas e das famílias, dispensador da caridade especialmente dos pobres e dos enfermos. Muito procurado para as confissões, pois era zeloso, sábio e prudente. Uma característica de quem ama de verdade é não querer que o Amado seja ofendido, por isso a conversão dos pecadores era a grande paixão do nosso Santo. A Irmã Helena Maria, que foi a primeira "recolhida" destinada a dar início ao "Recolhimento de Nossa Senhora da Conceição", testemunhou aquilo que Frei Galvão disse: "Rezai para que Deus Nosso Senhor levante os pecadores com o seu potente braço do abismo miserável das culpas em que se encontram". Possa essa delicada advertência servir-nos de estímulo para reconhecer na misericórdia divina o caminho para a reconciliação com Deus e com o próximo e para a paz das nossas consciências.Unidos em comunhão suprema com o Senhor na Eucaristia e reconciliados com Deus e com o nosso próximo, seremos portadores daquela paz que o mundo não pode dar. Poderão os homens e as mulheres deste mundo encontrar a paz, se não se conscientizarem acerca da necessidade de se reconciliarem com Deus, com o próximo e consigo mesmos? De elevado significado foi, neste sentido, aquilo que a Câmara do Senado de São Paulo escreveu ao Ministro Provincial dos Franciscanos no final do século XVIII, definindo Frei Galvão como "homem de paz e de caridade". Que nos pede o Senhor?: "Amai-vos uns aos outros como eu vos amo". Mas logo a seguir acrescenta: que "deis fruto e o vosso fruto permaneça" (cf. Jo 15,12.16) E que fruto nos pede Ele, senão que saibamos amar, inspirando-nos no exemplo do Santo de Guaratinguetá?A fama da sua imensa caridade não tinha limites. Pessoas de toda a geografia nacional iam ver Frei Galvão que a todos acolhia paternalmente. Eram pobres, doentes no corpo e no espírito que lhe imploravam ajuda.
Jesus abre o seu coração e nos revela o fulcro de toda a sua mensagem redentora: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos" (ib.v. 13). Ele mesmo amou até entregar sua vida por nós sobre a Cruz. Também a ação da Igreja e dos cristãos na sociedade deve possuir esta mesma inspiração. As pastorais sociais, se forem orientadas para o bem dos pobres e dos enfermos, levam em si mesmas este sigilo divino. O Senhor conta conosco e nos chama amigos, pois só aos que se ama desta maneira se é capaz de dar a vida proporcionada por Jesus com sua graça.
Como sabemos a V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano terá como tema básico: "Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida". Como não ver então a necessidade de acudir com renovado ardor à chamada, a fim de responder generosamente aos desafios que a Igreja no Brasil e na América Latina está chamada a enfrentar?
"Vinde a mim, vós todos que estais aflitos sob o fardo, e eu vos aliviarei", diz o Senhor no Evangelho (Mt 11,28). Esta é a recomendação final que o Senhor nos dirige Como não ver aqui este sentimento paterno, e ao mesmo tempo materno, de Deus por todos os seus filhos? Maria, a Mãe de Deus e Mãe nossa, se encontra particularmente ligada a nós neste momento. Frei Galvão assumiu com voz profética a verdade da Imaculada Conceição. Ela, a Tota Pulchra, a Virgem Puríssima, que concebeu em seu seio o Redentor dos homens e foi preservada de toda mancha original, quer ser o sigilo definitivo do nosso encontro com Deus, nosso Salvador.
Não há fruto da graça na história da salvação que não tenha como instrumento necessário a mediação de Nossa Senhora. De fato, este nosso Santo entregou-se de modo irrevogável à Mãe de Jesus desde a sua juventude, querendo pertencer-lhe para sempre e escolhendo a Virgem Maria como Mãe e Protetora das suas filhas espirituais.Queridos amigos e amigas, que belo exemplo a seguir deixou-nos Frei Galvão! Como soam atuais para nós, que vivemos numa época tão cheia de hedonismo, as palavras que aparecem na Cédula de consagração da sua castidade: "tirai-me antes a vida que ofender o vosso bendito Filho, meu Senhor". São palavras fortes de uma alma apaixonada, que deveriam fazer parte da vida normal de cada cristão, seja ele consagrado ou não, e que despertam desejos de fidelidade a Deus dentro ou fora do matrimônio. O mundo precisa de vidas limpas, de almas claras, de inteligências simples que rejeitem ser consideradas criaturas objeto de prazer. É preciso dizer não àqueles meios de comunicação social que ridicularizam a santidade do matrimônio e a virgindade antes do casamento.É neste momento que teremos em Nossa Senhora a melhor defesa contra os males que afligem a vida moderna; a devoção mariana é garantia certa de proteção maternal e de amparo na hora da tentação. Não será esta misteriosa presença da Virgem Puríssima, quando invocamos proteção e auxílio à Senhora Aparecida? Vamos depositar em suas mãos santíssimas a vida dos sacerdotes e leigos consagrados, dos seminaristas e de todos os vocacionados para a vida religiosa.Agradeçamos a Deus Pai, a Deus Filho, a Deus Espírito Santo, dos quais nos vêm, por intercessão da Virgem Maria, todas as bênçãos do céu; este dom que, juntamente com a fé, é a maior graça que o Senhor pode conceder a uma criatura: o firme anseio de alcançar a plenitude da caridade, na convicção de que não só é possível, mas também necessária a santidade, cada um no seu estado de vida, para revelar ao mundo o verdadeiro rosto de Cristo, nosso amigo! Amém!
FREI GALVÃO - O CONVENTO SÃO FRANCISCO
FREI GALVÃO - COM SUA COLHER DE PEDREIRO TORNOU-SE UM GRANDE CONSTRUTOR
Frei António de Sant'Anna Galvão, além de franciscano, sacerdote e fundador, pode, ou melhor, deve ser apresentado também como construtor e invocado como padroeiro de quem ganha o pão trabalhando entre andaimes, erguendo paredes, construindo casas ou projetando prédios, como fazem os engenheiros, os pedreiros e os serventes de pedreiro.
A tela de Carlos Oswald imortalizou Frei Galvão exercendo a dura profissão de pedreiro, como os Evangelhos imortalizaram José e Jesus de Nazaré na profissão de carpinteiros.
Para Deus, o que conta é o trabalho feito com dignidade e com o objetivo de colaborar na transformação do mundo e no bem-estar das pessoas.
As mãos que na Santa Missa erguiam ao Pai o Corpo e Sangue de Jesus para pedir misericórdia, erguiam também o tijolo e a colher com argamassa para o bem-estar dos homens, filhos de Deus.
FREI GALVÃO - SEUS PODERES
OS FIÉIS E A CHUVA
O LENÇO
O FRANGO DO DIABO
FREI GALVÃO - DOAÇÂO DA VIRGEM
Saindo de São Paulo, passou por Sorocaba e, continuando pela estrada dos tropeiros e boiadeiros, alcançou as margens do Piraí. Lá, encontrando algumas famílias, fez o que sempre fazia em suas viagens a pé. Estacionou para pregar.
Domiciliou-se em casa de Dona Ana Rosa Maria da Conceição e, por alguns dias, atendeu o povo. Na despedida, deixou com Dona Ana Rosa uma estampa de Nossa Senhora, animando-a a confiar na Mãe Imaculada, intercessora e capaz de todos os milagres.
Chegou a dizer-lhe que a estampa era milagrosa. A mulher colou a estampa numa cartolina, escreveu embaixo: "Lembrança do Frei Galvão" e a pôs numa moldura de madeira, provavelmente a moldura de um velho espelho quebrado.E foi diante dela que Dona Ana Rosa passou a fazer suas orações.
A estampa doada por Frei Galvão é de uma singeleza absoluta. Mede 10 x 16 cm. No braço direito, Maria segura o Menino. A mão esquerda pousa leve e maternalmente no peito de Jesus. O Menino encosta a face no rosto da Mãe. Os pés de Maria pousam sobre nuvens sustentadas por três anjos. Além da auréola, doze estrelas, que lembram os privilégios de Maria, rodeiam a figura. Nas duas margens laterais vemos casas pobres e vasos de flores.
Hoje sabe-se que é cópia da popularmente chamada em Portugal "Nossa Senhora das Barracas". E o nome vem do fato de estar a gravura encimada pelos dizeres latinos: "Sicut Tabernacula Cedar", ou seja, "Como as tendas (barracas) de Cedar".
A frase é tirada dos Cânticos, do começo da Canção da Amada: "Sou morena, porém graciosa como as tendas de Cedar, como os pavilhões de Salomão".
Os cedarenos eram nômades e costumavam viver em barracas simples. A frase ligada a Maria recorda a origem pobre e a insegurança de sua vida. Mas, de imediato, se recorda a riqueza de Salomão.
Maria se torna a mulher mais rica, a cheia de graça, por causa do Menino que carrega no braço.
Viúva, Dona Ana Rosa da Conceição contraiu novas núpcias e mudou de casa. Na mudança, perdeu o quadro.
Procurou por tudo e não o encontrou. Tempos depois, passando por uma região que sofrera grande incêndio, surpreendentemente encontrou o quadro entre as cinzas e os brotos novos da vegetação: a moldura queimada, mas a imagem intacta.
A mulher compreendeu que acontecera alguma coisa de extraordinário. Compreendeu que a estampa dada por Frei Galvão e por ele chamada de "milagrosa" devia sair do âmbito familiar para a devoção pública.
O milagre se espalhou. Os tropeiros contaram adiante com admiração. A partir de então os boiadeiros calculavam o tempo em suas viagens para pernoitarem, eles e seu gado, nas redondezas da capela que a Virgem recebeu da devoção do povo.
O povo não se lembrou da Nossa Senhora das Barracas e rebatizou a estampa com o nome de Nossa Senhora das Brotas, para lembrar que fora reencontrada intacta entre cinzas e rebentos.
Mas não sabiam que no Alentejo, em Portugal, desde o século XVI, se venerava uma Virgem sob o título de Nossa Senhora das Brotas, invocada sobretudo pelos guardadores de animais.
Tive o privilégio de concelebrar a Missa solene de inauguração do novo Santuário de Nossa Senhora das Brotas, em Pirai do Sul, em dezembro de 1987.
Como o quadro de Frei Galvão fora reencontrado no dia 26 de dezembro, criou-se o costume de celebrar-lhe a festa no primeiro domingo depois do Natal.
Uma longa procissão de mais de cinco mil devotos sai a pé da igreja paroquial do Menino Deus e caminha cantando e rezando os três quilômetros até o Santuário, situado romântica e devotamente em meio ao verde de um bosque e à sombra de grandes pinheiros.
Que a devoção mariana do novo Beato nos leve a incrementar no Povo de Deus esse grande amor a Nossa Senhora, nossa Mãe!
FREI GALVÃO - O APOSTOLO E SUA ESPIRITUALIDADE
Dom Frei Caetano Ferrari
Frei Galvão distingui-se, primeiramente, por uma rica "espiritualidade franciscana e mariana". Um verdadeiro filho de São Francisco: homem de oração, de vida simples e penitente.
2 - Pregador e Missionário itinerante: Apóstolo de São Paulo
Impulsionado pelo amor de Deus, que trazia no coração, Frei Galvão foi o grande pregador e anunciador da Palavra de Deus, tendo como centro de sua ação evangelizadora a cidade de Paulo. Logo que terminou os estudos, foi eleito em Capítulo Provincial "Pregador, Confessor e Porteiro" no Convento São Francisco.
3 - Confessor e Conselheiro: Missionário da paz e da caridade
O maior bem que Frei Galvão trazia no coração era Deus. Este bem ele distribuía a quem o procurava.
FREI GALVÃO - AS PÍLULAS MILAGROSAS
Quando ele morreu, as Irmãs Concepcionistas, a quem ele orientava espiritualmente, faziam estas pílulas e as distribuíam ao povo que acorria às portas dos mosteiros.
Temos notícias constantes das inúmeras graças e curas alcançadas por meio da Novena das Pílulas de Frei Galvão.
Frei Walter Hugo de Almeida
2. Palavra de Deus: (Mt 4,23-25)
3. Bênção das Pílulas
Onde obter as pílulas:
MUSEU DE ARTE SACRA DE SÃO PAULO
O Mosteiro da Luz, fundado e construído por Frei Antonio de Sant'Anna Galvão em 1774 caracteriza-se hoje como o mais importante monumento arquitetônico colonial do século XVIII, encerrado na última chácara conventual urbana, no bairro da Luz, coração da cidade de São Paulo. Neste local está instalado desde 1970 o Museu de Arte Sacra, com a vocação de preservar e divulgar ao público um dos mais signigicativos acervos museológicos do patrimônio sacro brasileiro. Organizado a partir do acervo da Mitra Arquidiocesana de São Paulo detém um conjunto de 4.000 peças, provenientes das principais igrejas e das mais recônditas capelas do Estado de São Paulo e do Brasil, do século XVI até nossos dias. Destacam-se imagens sacras, prataria e ourivesaria religiosa, pintura, mobiliário, retábulos, altares, vestimentas sacras e livros litúrgicos raros. Uma preciosa coleção que ostenta obras de Aleijadinho, Frei Agostinho de Jesus, Manuel da Costa Athayde e outros tantos anônimos cuja produção artística não visava o renome, mas apenas o culto divino. Destaca-se também outra vertente tipológica: a Coleção Numismática, com cerca de 9.000 peças, abrangendo moedas do período colonial e medalhas pontifícias. O edifício foi restaurado recentemente e conserva todas as suas características originais. O Convento das irmãs Concepcionistas, cuja ordem religiosa as mantêm enclausuradas, é parte integrante do Mosteiro.
Fonte: Sampa
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